quarta-feira, 4 de setembro de 2019

SUICÍDIO: NEM COVARDIA NEM CORAGEM

Enquanto o suicídio segue sendo um assunto sobre o qual se fala pouco, o número de pessoas que tiram a própria vida avança silenciosamente. No Brasil, o índice perde apenas para homicídios e acidentes de trânsito entre as mortes por fatores externos (o que exclui doenças). Em todo o mundo, entre os jovens, a morte por suicídio já é mais frequente que por HIV. Entre idosos, assim como entre pessoas de meia-idade, os índices também avançam.

Falar de suicídio, muitas vezes, é falar de depressão e ansiedade. Mas falar de depressão e ansiedade, no entanto, não necessariamente é falar de suicídio.

Estudos demonstram que cada morte por suicídio impacta, em média, emocionalmente 6 pessoas. Porém, o problema do suicídio é um problema da sociedade; qualquer um pode interferir.

Mas como podemos identificar o risco potencial em uma pessoa?

E como agir?

Será que falar sobre esse tema induz mais pessoas a cometerem suicídio?

Há histórico de tentativas anteriores?

Há algum outro transtorno mental associado?


A presença dos 4Ds são perigosos para esses tipos de questões: Depressão, Desesperança, Desamparo, Desespero. E os riscos são maiores ainda, quando os “meios” e as “oportunidades” surgem, quando há um plano específico, quando já tenha, por exemplo, sido escrita uma carta de despedida e não exista algo ou alguém que “detenha” a pessoa.


Por outro lado, contamos com os valores preventivos / protetivos. Eles são:

- Apoio da família e/ou amigos

- Crenças religiosas, culturais e étnicas

- Envolvimento com a comunidade

- Vida social satisfatória

- Integração social. Ex: No trabalho, escola, momento de lazer.

- Acesso a serviços e cuidados de saúde mental


Um assunto também que deve ser destacado está relacionado às habilidades sociais na promoção da saúde mental e prevenção do suicídio na transição para a vida adulta (Sim! Precisamos falar sobre isso! Precisamos falar sobre suicídio!). A adolescência é uma segunda janela de oportunidades para fatos que foram marcados na 1ª infância. Com isso, trabalhar a resiliência em adolescentes representa um ótimo ensejo para a questão. Traços individuais trabalhados pelo equilíbrio e controle emocional/psicológico podem desenvolver autocontrole, expressividade emocional, empatia, assertividade e solução de problemas interpessoais. Ou seja, valores e processos protetores contra o suicídio.


“Não se compare. Não arrume motivos para se sentir menor ou maior do que ninguém. Seja só você. Comemore as suas vitórias, independente das alheias. Ninguém vive a mesma vida ou sente as mesmas coisas. Então, não se cobre por algo que alguém conseguiu e você não. Foque no que quer. Só. Não se condene. Ofereça sua própria absolvição.“ Matheus Rocha


ANSIEDADE E SUICÍDIO


Termo comumente usado de forma errada para descrever uma forma de impaciência, a ansiedade se trata de um grande mal-estar físico e psíquico; aflição, agonia, sensação de estreitamento, constricção, sufocamento, opressão, desconforto, sofrimento e pânico.


Comportamentos e circunstâncias que são estimuladores da ansiedade:

- Pensamento dicotômico (“pensamento 8 ou 80”)

- Comparação injusta (compare-se apenas a você mesmo)

- Pensamento: “E se...”

- Pular para conclusões

- Tirania dos “deverias”. Ex: Deverias ter feito desta forma.

- Busca pela “felicidade”

- Excessivo contato com o passado ou futuro (e não com o presente)

- Não aceitação das sensações ou dos pensamentos desagradáveis

- Não saber dizer não

- Não identificação de nossos próprios valores

- Afastamento de nossos valores por meio de ações não comprometidas

- Excesso de estimulantes ou cafeína (presente no café, refrigerantes, mates, alguns chás, chocolate, entre outros)

- Distúrbios hormonais


 Ansiedade e sintomas depressivos


Um dos últimos estágios da ansiedade é a exaustão. Nessa fase final de esgotamento psíquico, quadros de depressão estão/ podem estar associados. Por isso, geralmente muito relacionados, ansiedade e depressão formam uma combinação que pode ser precursora do comportamento suicida.

São propostos quatro estágios para o comportamento suicida:

1) Fase de pensamento (“Seria bom se eu morresse”, “Seria bom que alguém acabasse com a minha vida”)

2) Fase de ideação (“Eu posso me matar”, “ Seria bom acabar com tudo isso que eu estou sentindo”, “ seria bom se eu me matasse”)

3) Fase de planejamento (Bolar um plano para realizar tal atitude) – Estágio extremamente alarmante!

4) fase de tentativa (pôr em prática o plano)


Fatos relacionados:

- Pessoas com depressão e crises de pânico associadas tendem a ter mais comportamentos suicidas em relação às pessoas que têm depressão isolada

- Não podemos eliminar a ansiedade

- Há tratamento para a ansiedade (clínico e/ou subclínico)

- Suicídio é uma morte evitável


ESTEREÓTIPO DO SUICÍDIO


Quando o assunto é suicídio, precisamos tirar o estereótipo do que já foi dito até então. E as pessoas precisam se apropriar disso.


Vida e morte devem ser tratadas como situações da existência, e não há uma dicotomia entre elas; uma depende da outra e não deve ser mantida a qualquer preço, mesmo que haja meios para isso. Essa é a ideia de que não existe “vida” sem dignidade.


O problema do suicídio, muitas vezes, parece não ser o suicídio em si e sim a morte, que “transparece fraqueza, fragilidade”. E isso foi mantido por muitos anos por um pensamento errôneo.


É preciso aprender a lidar com a morte.

É preciso retirar o estereótipo de que uma pessoa com comportamento suicida possui uma postura antissocial, é isolada, não gosta de festas, não tem cuidado com a vestimenta, não possui hábitos de higiene, é “feia”, é “bonita”, é "estranha”, come pouco, come muito… Enfim, existem linhas de bases completamente diferentes entre as pessoas. Não podemos julgar uma pessoa como psicologicamente saudável apenas por ela não apresentar os sintomas característicos de depressão, ansiedade, pânico etc.


Todos nós somos capazes de cometer um suicídio.


Estresse e suicídio

O problema para essa reação fisiológica/ natural do corpo é quando o estresse se torna excessivo ou crônico.

Por exemplo: Se estivéssemos falando de uma ponte, o quanto ela aguentaria até se quebrar? O que mais interfere para a ponte quebrar? Precisamos realizar a manutenção constante dessa ponte?

Tratando–se da maquinaria do corpo humano, o que seria vital para a nossa ponte pessoal? Complexo B, Vitamina C/D, Magnésio, Ferro, Manganês; parte física saudável e parte psíquica equilibrada? Que nota você daria para a sua ponte pessoal?

A reação do organismo aos agentes estressores pode ser dividida em três estágios: 1) Alerta (fase produtiva, benéfica), 2) Resistência e quase exaustão (fase negativa e prejudicial do estresse), 3) Exaustão( fase de total desgaste - Pode ocorrer depressão secundária).


EMPATIA NO COMBATE AO SUICÍDIO


A gente não sabe o que passa na vida do outro. A empatia tem a finalidade  de compreender emocionalmente um outro ser (explicando de forma bem simplória).


Quando alguém se dirige a você, é preciso que você se dirija a esta pessoa: Empatia no ouvir.


No caso dessa pessoa mostrar-se deprimida, angustiada ou desabafar sobre um desejo de morte, deve ser evitado:


- Interromper a conversa

- Mostrar-se chocado

- Colocá-lo em uma situação de inferioridade

- Fazer comentários invasivos

- Tratar o problema enfrentado como trivial

- Subestimar o seu problema (Jamais faça isso!)

- Contestá-lo (Contestar é deixá-lo sozinho)

- Deixar a pessoa à vontade com a sua “anormalidade”

- Pensar que o suicida é uma pessoa isolada. Lembre-se de ele não precisa ter um perfil necessariamente suicida e todos somos suicidas em potencial


Em contrapartida, as pessoas que têm alguém para o qual possa contar suas angústias (sem que essa pessoa a mande parar com esse tipo de conversa), que dê atenção ao que é falado, faça contato visual enquanto ouve, tenha uma escuta atenta e empática com a questão apresentada, estão extremamente mais protegidas contra um possível comportamento suicida.


É preciso valorizar a escuta, pois estamos numa sociedade na qual a maioria absoluta das pessoas simplesmente não tem tempo, nem paciência para ouvir o outro.


Que esse texto ajude ao máximo de pessoas que possa ajudar.

Se acharem válido, repassem, compartilhem. Nunca sabemos quem pode estar precisando ouvir essa conversa. 



CONTATO


POLOS DE APOIO
CVV - Centro de Valorização da Vida

NACE – Núcleo de acolhida ao estudante/UERJ pela vida http://www.uerjpelavida.uerj.br/


Texto: Priscila Queiroz Pires de Souza (QUEIROZ,P.)
Revisão textual: Alessandra Ferreira

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